Confira resumo do especial do Valor Econômico sobre seguros, publicado no dia 30/4 (o acesso é exclusivo para assinantes).
OTIMISMO COM CRESCIMENTO
“Para este ano, vemos a economia brasileira mais robusta, com o PIB em alta de 2,5%, a massa salarial crescendo 7% em termos reais, a taxa de inflação arrefecendo, os preços das commodities estáveis, e uma retomada das operações de crédito”, afirma Dyogo Oliveira, presidente da CNseg. A entidade projeta um crescimento do setor para este ano de 12%. Oliveira ressalta, no entanto, que as projeções não se baseiam somente nos aspectos conjunturais da economia, mas em um componente estrutural que vem se consolidando na sociedade após a eclosão da pandemia de covid-19, em 2020.
Dois projetos de lei tratam do tema na Câmara dos Deputados – o PL 988/19, sobre um seguro solidariedade para vítimas de catástrofes, e o PL 1410/22, que propõe um seguro obrigatório de danos pessoais e materiais causados por chuvas. Outra proposta em debate, formulada pela CNSeg, prevê a contratação do seguro emergencial mediante pagamento de R$ 3 mensais, a serem cobrados na conta de energia elétrica. A indenização estimada é de R$ 15 mil por unidade habitacional, para cobertura de despesas materiais, e R$ 5 mil de auxílio funeral, no caso de vítimas fatais. O valor seria depositado por Pix após as autoridades decretarem estado de calamidade pública.
As perdas financeiras associadas a esses eventos alcançaram US$ 380 bilhões, um aumento de 22% em relação à média do século XXI, de acordo com o relatório “da Aon Seguros. Das 66 catástrofes naturais que causaram prejuízos de US$ 1 bilhão ou mais, 63 foram causadas pelo clima. Entre as perdas cobertas por seguros, outro recorde: total de US$ 118 bilhões, marcadas por um recorde de 37 eventos bilionários, o maior número já registrado pelo setor de seguros.
Em um cenário de tamanha volatilidade e incertezas, seguradoras estão aprimorando processos para enfrentar desafios que exigem mais aperfeiçoamento. Para Antônio Trindade, presidente da FenSeg, essa é a tônica do mercado ante o tamanho do desafio. “As seguradoras estão revisando estratégias de gestão de riscos e desenvolvendo soluções inovadoras para ajudar as empresas a mitigar os impactos de eventos geopolíticos”, afirma. “É crucial para as seguradoras colaborarem estreitamente com seus clientes para compreender e responder adequadamente a esses novos desafios.”
Ernesto Tzirulnik, presidente do Instituto Brasileiro de Direito do Seguro (IBDS), cita, entre os avanços, um maior nível de transparência nos contratos, já que as seguradoras deverão informar tudo que não é coberto pelos seguros, ao contrário do sistema atual, no qual são listadas apenas as coberturas. Para Tzirulnik, o projeto ainda “joga luz” sobre práticas discriminatórias. “Se chega um pedido para fazer seguro do carro de um morador de Capão Redondo [bairro da zona sul de São Paulo, conhecido pelos índices de violência ] e a seguradora recusa, fica configurado que selecionou o perfil do segurado com base em critério socioeconômico. Isso é ilegal. Tira das pessoas o direito de fazer seguro.”
Olhando para trás, para o comportamento dos clientes da previdência privada, o setor mostrou resiliência na pandemia, com todas as consequências socioeconômicas, preservando um nível de captação líquida positiva, ainda que reduzida, e até algum crescimento em quantidade de participantes”, avalia o presidente da Fenaprevi, Edson Franco.
“As resoluções possibilitam ao empregador estabelecer a adesão automática nos planos coletivos – mas sempre com uma cláusula de saída, se o trabalhador assim preferir ”, frisa o presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), Edson Franco. Essa mudança, diz ele, terá reflexo nos planos de previdência fechada sobre os planos coletivos de previdência aberta, hoje, relativamente poucos.
As seguradoras de saúde, que enfrentam custos crescentes no setor, estão adotando estratégias para incrementar seu resultado operacional, como oferta de produtos mais acessíveis e regionalizados, foco na atenção primária e parcerias com prestadores de saúde.
Segundo Bernardo Castello, diretor da Bradesco Vida e Previdência, essa amplitude de coberturas oferecidas está relacionada a uma mudança na percepção que a sociedade tem desse tipo de serviço. “Antes [o seguro] era visto como voltado apenas à proteção da família e beneficiários em caso de falecimento do provedor. Agora, já começa a ser percebido também como fator de prevenção, essencial ao cuidado e ao planejamento.
Globalmente, o mercado de seguro cibernético deve chegar a US$ 22,5 bilhões em 2025 e a US$ 33,3 bilhões em 2033, de acordo com estimativas da Munich Re. O crescimento tem sido expressivo: em 2019, o segmento movimentava apenas US$ 5,8 bilhões.Alexandre Arias, diretor de TI da Bradesco Seguros, conta que o crescimento de 25% na demanda pelo segmento fez a companhia firmar, no ano passado, uma parceria com a Swiss Re para ampliar seu portfólio. Foram criadas ofertas conjuntas, como o seguro para riscos cibernéticos PME, pensado para pequenas e médias empresas com faturamento de até R$ 160 milhões.
Relatório de 2024 da plataforma de inovação Distrito aponta que o país já concentra 57,2% de todas as startups de seguro na região. O aumento do uso da tecnologia por essas empresas, em especial por aquelas saídas do sandbox – o ambiente regulatório experimental da Superintendência de Seguros Privados (Susep) que incentiva a criação de projetos inovadores em produtos, serviços ou soluções -, agora chama a atenção de investidores brasileiros e estrangeiros.
“Hoje em dia, ao fazer uma cotação de seguro de automóvel particular, não precisamos perguntar, por exemplo, se há garagem fechada no local: pelo endereço informado acessamos imagens e sabemos se é prédio ou casa, se há portão automático e outras informações”, diz Marcos Sirelli, chief information officer (CIO) da Porto – nome adotado em 2022, após reposicionamento de marca, pela companhia antes conhecida como Porto Seguro.
“O open insurance trará uma mudança no comportamento do cliente ao mesmo tempo em que mostra que, apesar da regulação do setor, a Susep tem deixado espaço para que empresas criem novas experiências”, diz Rachel Ferreira Bonel, diretora de controles internos e dados da Icatu Seguros. “A Spoc é uma corretora dentro do open insurance que irá organizar os dados dos clientes, as demandas dos corretores e das seguradoras relativas a produtos, estruturando essas informações no mundo digital”, diz Airton Filho, diretor da Susep.
Segundo Andre Dabus, diretor de infraestrutura da Marsh, o novo cenário vai exigir mudanças operacionais, já que as seguradoras de infraestrutura ainda trabalham com produtos padronizados, diz. “Agora, deverão investir na formação e qualificação de profissionais de subscrição de riscos, além de formação jurídica para interpretação de contratos, matrizes de riscos e, principalmente, experiência em project finance”, afirma.
“É o fim da picaretagem, o fim de empresas que entram, ganham e depois não fazem”, afirmou o governador do Mato Grosso, Mauro Mendes, no anúncio da licitação. Segundo ele, todas as obras públicas do Estado com valor acima de R$ 50 milhões terão a exigência. “Temos performance ruim de algumas empresas”, disse, acrescentado que “obra parada é um desrespeito com o dinheiro público”.
Eduardo Toledo, vice-presidente de resseguros da Alper, conta que a procura pelo produto ganhou tração em segmentos não tradicionais da indústria, como na proteção de atletas, clubes esportivos e grandes eventos. “Há novas demandas surgindo, como na área de riscos cibernéticos”, afirma. “É um tema cada vez mais preocupante para as empresas, que gera não só prejuízo financeiro, mas problemas de reputação.”
O custo quase dobrou em 2023 devido ao volume de indenizações de 2022. O segmento terá que lidar também com uma queda na oferta de recursos. A dotação orçamentária do Programa de Seguro Rural (PSR), destinado à subvenção aos prêmios de seguro, bancado pelo governo federal, teve um corte de R$ 17 milhões neste ano, para R$ 947,5 milhões.
Passados cinco anos de intensa movimentação, com cerca de cem transações de M&A (fusões e aquisições) de empresas relacionadas à indústria de seguros no Brasil, segundo dados da KPMG, a expectativa é de arrefecimento desse tipo de operação em curto prazo. “A perspectiva é de que o setor continue atrativo para M&A no país, mas esperamos que as empresas ainda precisem de algum tempo para consolidar as transações recentes. Por isso, novas transações de grande porte ainda devem demorar”, diz Marco André Almeida, sócio-líder de fusões e aquisições da KPMG para Brasil e América do Sul.
Para o advogado constitucionalista Adib Abdouni, a extinção do pagamento decorreu de uma pauta política sem base na tecnicidade. “Apesar de fundadas falhas na política de preços e lucros em patamar superior à margem – que exigiam investigação e aprimoramento do sistema -, encerrar a cobrança causou grave insegurança jurídica diante da iminência da interrupção da proteção social proporcionada pelo seguro, inclusive com a cessação, agora a ser retomada, dos repasses de verbas ao Sistema Único de Saúde”, afirmou.
Os veículos elétricos estão ocupando espaço no mercado devido ao maior interesse por carros que poluem menos o ambiente. Hoje, estes carros representam cerca de 5% do total da indústria a combustão no país. Com o avanço dos elétricos, as vendas de seguros triplicaram, mesmo sem referências dos riscos para estes modelos. O vice-presidente de auto e frota da Alper Seguros, Antonio Azevedo, afirma que o número de seguros contratados para carro elétrico triplicou em um ano. Na seguradora Tokio Marine, em 2023, a procura cresceu 140%. “No primeiro trimestre de 2024, observamos aumento de 230% na demanda”, afirma o diretor de automóvel, riscos diversos massificados e precificação da Tokio, Arnaldo Bechara.
O primeiro bimestre deste ano aponta para a confirmação deste cenário. No período, o setor de responsabilidade civil para desvio de cargas registrou arrecadação de R$ 198 milhões, aumento de 33% sobre janeiro e fevereiro de 2023. “O aumento pode ser atribuído a uma maior conscientização por parte das empresas em relação aos riscos envolvidos no transporte de cargas, levando a uma busca crescente por coberturas de seguro adequadas”, afirma Marcos Siqueira, presidente da Comissão de Transportes da Fenseg.
Fonte: https://www.sonhoseguro.com.br/2024/04/valor-traz-especial-sobre-seguros-nesta-terca-feira/