Apesar da queda nas ocorrências, números ainda são preocupantes, sobretudo no Rio e em Minas Gerais
A evolução do comércio eletrônico trouxe conforto para o consumidor e, ao mesmo tempo, desafios para as empresas. Entre as dificuldades logísticas está a segurança no transporte das mercadorias. Apenas no primeiro trimestre deste ano houve 3.639 roubos de cargas no Brasil, cerca de 40 por dia, segundo dados da empresa de gerenciamento de riscos Overhaul baseados em relatórios das secretarias de Segurança e da Polícia Rodoviária dos estados.
É verdade que houve recuo de 20,6% nas ocorrências, em relação ao mesmo período de 2023, mas o número alto continua a preocupar empresas de transporte, fornecedores e seus clientes. E, apesar da queda no primeiro trimestre, os roubos vinham crescendo no período pelo menos desde 2021, quando houve 4.104 ocorrências (foram 4.177 em 2022 e 4.585 no ano passado).
Ao aumentar o negócio das transportadoras, as vendas on-line atraíram a cobiça de criminosos. Dos roubos de carga registrados no primeiro trimestre, 23% envolveram mercadorias compradas em lojas virtuais. É provável que haja quadrilhas especializadas em obter informações sobre o deslocamento das cargas, depois desviadas. Também de posse dessas informações, não deveria ser difícil para a polícia agir previamente.
São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais respondem por 86% dos registros de carga roubada no Brasil. Entre 2023 e os primeiros meses de 2024, o peso de São Paulo se manteve estável, com 44% das ocorrências. Mas a participação do Rio subiu de 27% para 35%, e a de Minas de 4% para 7%. No Rio, no entorno do Arco Metropolitano, criado justamente para facilitar o transporte e o deslocamento, o roubo de cargas cresceu 4%, enquanto caiu no resto do estado, segundo levantamento da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). Autoridades de segurança deveriam concentrar esforços na região.
A carga não está a salvo nem quando chega às cidades. Pelas últimas estatísticas, 59% dos roubos ocorreram nos centros urbanos, 38% nas estradas e 3% em armazéns e centros de distribuição. Alimentos, bebidas, tabaco, peças de veículos, sementes e defensivos agrícolas são produtos sempre visados. A escolha da carga pelas quadrilhas depende da facilidade de venda aos receptadores. Parece haver, nos grandes centros, uma máquina azeitada para vender o produto dos roubos.
Como o transporte é uma atividade nacional, o roubo de carga expõe mais uma vez a limitação de deixar a segurança pública exclusivamente a cargo dos governos estaduais. Os números preocupantes justificam uma análise integrada das polícias, para que providências sejam tomadas em conjunto. Para desbaratar as quadrilhas, também é necessário um trabalho bem feito de investigação. Do contrário, o custo dos seguros e das perdas continuará a recair sobre toda a cadeia de negócios. A insegurança no transporte é um ônus que afeta todos — produtores, comerciantes e consumidores.